Para tratar a doença que, segundo dados da OMS, causa uma em cada seis mortes no mundo, movimentar-se é fundamental. No Dia Mundial da Atividade física (06/04), o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA), elenca como os exercícios físicos podem contribuir para a prevenção, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) de ao menos treze tipos de câncer
Praticar atividade física regularmente ajuda a prevenir ao menos treze tipos de câncer, dentre eles um dos tumores ginecológicos mais comuns, que é o que acomete o corpo do útero (endométrio). Uma pesquisa realizada pelo National Cancer Institute, nos Estados Unidos, apontou que o exercício regular está associado à diminuição de ao menos treze tipos de câncer incidentes e com altas taxas de mortalidade: esôfago, fígado, pulmão, rim, estômago, endométrio, leucemia, cólon, mama, cabeça, pescoço, reto e bexiga (1).
Conforme apontou o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), “Status Global sobre Atividade Física 2022”, até 2030, meio bilhão de pessoas poderão desenvolver obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e outras enfermidades devido ao sedentarismo (2). Mas qual é a exata relação da atividade física na prevenção e tratamento do câncer? Pesquisas demonstraram que uma vida ativa contribui tanto para a prevenção de tumores quanto para o bem-estar de quem já foi diagnosticado com a doença, além de aumentar o sistema imunológico, a circulação sanguínea e o fluxo de oxigênio, o que ajuda a combater as células cancerígenas.
Nesse sentido, numerosos esforços já vêm sendo feitos, para quebrar um paradigma: de que ‘pessoas com câncer deveriam descansar e evitar esforços físicos’. Henrique Novais Mansur, educador físico e doutor em Saúde pela Universidade Federal de Juiz de Fora, reforça: “ainda é pouco orientado pelos profissionais da saúde a prática do exercício físico nos pacientes com câncer”. Contudo, antes de começar, é sempre bom perguntar ao seu oncologista como e quando se movimentar, para assim escolher a intensidade do treino e o tipo de movimento mais adequado à sua condição e seguir orientações específicas ou treinos com profissionais qualificados.
O exercício físico é um importante aliado quando falamos em prevenção do câncer. Mas, seus benefícios também se estendem para quem está em tratamento ou foi diagnosticado com a doença. Além de produzir bem-estar e regular a produção hormonal, ocorre a redução do estado pró inflamatório e a diminuição de citocinas que podem facilitar o surgimento de mutações e de câncer.
A redução da gordura corporal diminui o risco de câncer, pois o acúmulo de gordura pode colocar em circulação “substâncias” nocivas (fatores pró-inflamatórios e que favorecem o surgimento de tumores). Mas, deve-se lembrar, entretanto, que a realização de atividade física deve ser sempre orientada com base nas próprias necessidades e condições ósseas, musculares e cardiorrespiratórias e recomendação médica. Este é um fator protetor contra o desenvolvimento de tumores.
“É muito importante que a população tenha consciência da importância da vida em movimento, ou seja, que a atividade física – dentro de um contexto de estilo de vida saudável – favorece a prevenção de mais de uma dezena de tipos de câncer”, ressalta o cirurgião oncológico, Glauco Baiocchi Neto, presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), juntamente com o Guidelines da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), aponta que é seguro praticar exercícios durante o tratamento oncológico, desde que autorizado pelo oncologista.
Cada uma dessas atividades traz benefícios diferentes para o corpo. Alguns fortalecem os músculos das pernas, braços, abdome, outros desenvolvem a mobilidade e ainda implementam resistência cardiorrespiratória. Algumas das opções são: caminhada; corrida; natação ou hidroginástica; ioga; dança; pilates; bicicleta; musculação; aeróbica e tênis.
Ainda, exercícios aeróbicos (como caminhada, corrida, ciclismo) quanto os voltados para o desenvolvimento e manutenção da força muscular (como flexão de joelhos, exercícios com resistência adequada e sobrecargas) são necessários e são uma forma de combate ao sedentarismo.
Movimentar o corpo também ajuda a reduzir os efeitos colaterais associados aos tratamentos e à doença, além do risco de o paciente sofrer um retorno do câncer (recidiva). A tal ponto que hoje o impacto da atividade física nas doenças oncológicas é um tema de grande interesse e com farta literatura. Muitas hipóteses foram levantadas sobre essa correlação, mas os mecanismos exatos pelos quais a prática esportiva tem impacto em várias formas tumorais ainda são desconhecidos.
De fato, os tratamentos oncológicos estão associados a efeitos colaterais. Estes incluem cansaço/fadiga, mais frequentemente relatados pelos pacientes em tratamento, a nível físico, bem como efeitos psicoemocionais, incluindo depressão com empobrecimento geral da aptidão física e qualidade de vida.
A atividade física contribui para diminuir os efeitos em cadeia, que podem resultar em menor adesão à terapia e, portanto, eficácia mais reduzida do tratamento e resultados menos favoráveis. O que também é compartilhado pelo educador físico: “O exercício físico é a melhor forma de tratamento da fadiga comum ao paciente em tratamento de câncer. Ela reduz a duração da internação e o tempo em terapia intensiva, auxiliando o paciente a retornar mais rapidamente às suas atividades cotidianas. Aumenta também a probabilidade de remissão da doença”, explica.
O exercício físico, portanto, é uma parte importante do tratamento e prevenção desta doença. Como apontado, é conveniente reiterar sua capacidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas e seu potencial para diminuir o risco de recorrência de alguns tipos de câncer. Entre os benefícios aos pacientes oncológicos estão:
O educador físico Henrique Novais Mansur reforça que, antes de mais nada, é fundamental o paciente perguntar ao oncologista se há alguma contraindicação para a prática de atividade física. “O que deve ou não ser realizado, depende de uma série de fatores como o nível de atividade física no diagnóstico, o estágio e local da doença, a presença ou não de metástase”, pontua.
Portanto, antes de iniciar qualquer programa de exercícios, é importante conversar com sua equipe de saúde para garantir segurança. Também é crucial começar com intensidade leve e aumentar aos poucos a duração da atividade física.
Desde 2002, comemora-se o Dia Mundial da Atividade Física em 6 de abril. O objetivo é promover a necessidade de se exercitar e praticar esportes como hábitos saudáveis. A atividade física tem sido considerada um pilar fundamental na promoção da saúde, além de contribuir para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis e para fortalecer o bem-estar psicofísico e a qualidade de vida em qualquer faixa etária.
1 – Moore SC, Lee IM, Weiderpass E, Campbell PT, Sampson JN, Kitahara CM, Keadle SK, Arem H, Berrington de Gonzalez A, Hartge P, Adami HO, Blair CK, Borch KB, Boyd E, Check DP, Fournier A, Freedman ND, Gunter M, Johannson M, Khaw KT, Linet MS, Orsini N, Park Y, Riboli E, Robien K, Schairer C, Sesso H, Spriggs M, Van Dusen R, Wolk A, Matthews CE, Patel AV. Association of Leisure-Time Physical Activity With Risk of 26 Types of Cancer in 1.44 Million Adults. JAMA Intern Med. 2016 Jun 1;176(6):816-25.
2 – World Health Organização (WHO). Global status report on physical activity 2022. p 112. Disponível em 31 de Março de 2023 – www.who.int/publications/i/item/9789240059153
O EVA é uma associação sem fins lucrativos, composta em sua maioria por médicos, que tem como missão o combate ao câncer ginecológico. Seu time, multiprofissional, atua com foco na educação, pesquisa e prevenção, assim como promove apoio e acolhimento às pacientes e aos familiares.
A idealização e a organização do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos foram iniciadas pela oncologista clínica Angélica Nogueira Rodrigues, no Hospital do Câncer II do Instituto Nacional de Câncer (INCA). A primeira reunião ocorreu em 12 de março de 2010 e o nome Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos passou a ser utilizado a partir desta data.
A primeira reunião para nacionalização do grupo ocorreu no Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em 2013, na cidade de Brasília. O nome EVA foi resultado de uma reunião neste evento e foi sugerido pela oncologista clínica, coordenadora da área de apoio ao paciente (advocacy) do grupo, Andréa Paiva Gadelha Guimarães. O ginecologista oncológico Glauco Baiocchi Neto é o diretor-presidente do EVA na gestão 2023-2024.